O Book-Shop de Pipa
Manhã de sábado-primavera a praia, Pipa. Acorda. Escritores convidados pela Flipa e acompanhantes aproveitam para caminhar em suas ruas, areias e escadas. O poeta no hotel ler para palestrar. Vejo subindo uma escada – vagarosamente - o escritor Ronaldo Correa de Brito. Assim também como um voyeur surpreendo as passadas lentas, claro - estamos na praia – envoltas numa cabeleira branca do escritor Raimundo Carrero. Da Danusa Leão só escuto ecos. A Flipa é uma festa, principalmente para os convidados e alguns jornalistas.O sebo pela manhã está fechado. Não tem hora certa para abrir, sou informado. Após um bom papo diverso genérico sobre livros no sebo vermelho volto ao sebo, digo book-shop internacional como é a Pipa. A Dona Cíntia está lendo no seu sofá- garçonniere-morada e oásis. Já me imagino sem nada para ler numa praia e encontro um sebo, onde posso emprestar, trocar e alugar livros. São muitos livros nos mais diferentes idiomas. Livros em Sueco, Alemão, Inglês, Japonês, Italiano e Português. Muitos ainda cobertos por uma fuligem de um fogo recente. Todos os livros foram doados, informa a simpática Cíntia. Muitos não estão à venda. Doando um livro você fica com um crédito de muitas leituras. Um oásis para uma praia – cidade que carece de cultura, para além das belas mulheres desfilando de poucas roupas em suas ruas.
A Cíntia é a atração principal do sebo. Muito viajada nas cidades, vida e livros. Mora no sebo e não paga em muitos restaurantes. Dorme numa rede como gosto. Um livro sobre o Maranhão não está à venda. Um outro organizado pelo Correa Lago também não. Compro o Terror na Alcova do Serge Bramly, baseado no Marques de Sade. E História do Amor no Brasil da Mary Del Priore. A pipa é mesmo a praia dos amores. No teto da pequena loja dos livros adornada pelos retratos de muitos escritores, tem uma pintura mal-feita da Origem do Mundo do Courbet. Uma bela gata se enrosca nas minhas pernas. Cíntia está feliz com a nossa visita. As pessoas sentem falta em Pipa de cultura e de livros, fico sabendo ao conversar com Cíntia e com outras pessoas. Um Italiano que mora na Pipa há quatro anos gostou da nossa conversa do Sebo Vermelho e ficou. Sua filha de dez anos foi mandada embora. Aquilo não é lugar para criar filhos. Um outro Italiano faz o registro de quem tem o que dizer sobre a Pipa antiga. D. Inácio é convidado.
Nos bares muitos menores. Pouca polícia e muita droga.
Hora de partir, diz os amigos Homero e D. Inácio. Já é estrada... É Belo o pôr-do-sol na lagoa Groairas. Pipa precisa de mais cultura e agradece ao sebo de Cíntia. Até a volta!...
João da Mata Costa

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