“Os sebos foram se acabando, cedendo lugar a lojas
sofisticadas, onde o livro é exposto como artigo de moda, e há volumes mais
chamativos do que as mais doidas gravatas, antes objetos de decoração de
interior, do que de leitura.
O bom sebo é agradavelmente desarrumado, como convém ao
gênero de comércio, para deixar o freguês á vontade.
Os fregueses, mesmo não se
dando a conhecer uns aos outros, são todos conhecidos como freqüentadores
crônicos de sebo.
Caras peculiares. Em geral usam roupas escuras, de certo uso
(como os livros), falam baixo, andam devagar.
Formam uma confraria silenciosa, que procura sempre e
infatigavelmente uma pérola ou um diamante setecentista, sabendo que não
encontrará nunca entre aqueles restos de literatura, mas qualquer encontro a
satisfaz. Procurar mesmo não achando é ótimo.
O sebo é a verdadeira democracia, para não dizer: uma igreja
de todos os santos, inclusive os demônios, confraternizados e humildes. Saio
deles com um pacote de novidades velhas, e a sensação de que visitei não um
cemitério de papel, mas o território livre do espírito, contra o qual não
prevalecera nenhuma forma de opressão.”
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